sexta-feira, abril 23, 2010

Dez campeonatos para ver e rever (no mundo)

Mais uma da série "imaginemos que fosse possível voltar no tempo para assistir a dez eventos", porém mirando em horizontes mais distantes. Se a lista nacional foi difícil, a internacional nem se fala, parece impossível selecionar dez entre milhares. Segue a tentativa.

1 - Um evento em Waimea
Pelo menos um, porque o cenário é dos mais cativantes. Meu principal candidato seria o Smirnoff de 1974, que começou em Sunset e foi encerrado em Waimea. A participação de Mark Richards, então com 18 anos, foi um marco para a geração Free Ride. Séries fecharam a baía, James Jones quase morreu (foi salvo por Eddie Aikau) e Reno Abellira foi o campeão.
Outra opção seria escolher um Eddie - assisti a edição de 1995, que não foi finalizada porque as ondas diminuíram. A primeira (1987, vencida por Clyde Aikau) e a última (2009, por Greg Long) seriam boas opções.

2 - Bells Beach Classic de 1981
Para ver 15 pés de onda no "Large Saturday" e a conquista marcante de Simon Anderson com sua triquilha. Pela importância histórica, Bells não poderia ficar fora da lista. Sede do segundo evento mais antigo do tour, recebe desde os tempos de Michael Peterson muitos ícones do esporte. Mas a onda é cheia e para valer o espetáculo o mar tem que estar grande - de preferência muito, como em 1981.

3 - Uma edição do Pipemasters
Com quase 40 concluídas, é muito difícil escolher uma. Há campeões dos mais diversos, de Gerry Lopez a Jamie O’Brien, passando por Dane Kealoha, os irmãos Ho, Occy, Carroll, Slater, os irmãos Irons... e quase todas as disputas com condições cinematográficas. Sem falar que quase dez títulos mundiais foram decididos em seus tubos.
Fica o registro de que a única edição que assisti, a de 1995, teve ingredientes de sobra: quatro dias de ondas espetaculares, o bom desempenho brasileiro, o retorno de Occy, derrubando o líder do ranking Sunny Garcia, o hang five de Slater e Machado na semi, a decisão do título mundial na última bateria e o tri de Slater.
Mas um dos Pipemasters vencido por Tom Carroll também seria uma boa pedida - talvez o de 1987, seu primeiro, quando o falecido Ronnie Burns foi vice-campeão.

4 - Um evento em Teahupoo
Bruno Santos que me perdoe (no ano em que ele venceu, a triagem foi melhor que o evento principal), mas escolheria uma entre duas outras edições: a primeira, em 1999, pelo impacto da estréia e talvez pela vitória de Occy; ou ainda melhor, a de 2002, que teve as maiores ondas - séries passando de 12 pés, acidentes, feridos, Peterson derrotando Slater e Andy Irons campeão.

5 - Um evento em Jeffrey's Bay
O de estreia, em 1984, lidera a lista de preferências - em especial pela primeira vitória de Mark Occhilupo no tour. Porém muitas das treze edições mais recentes pelo WT tem atrativos de sobra.

6 - Um evento em G-Land
Alguns lugares justificam a escolha por si só, caso de Grajagan, em Java. A estreia no tour em 1995 foi histórica, recorde de notas 10, vitória de Slater, um dos melhores campeonatos de todos os tempos. A de 1996 foi vencida por Beschen e a de 1997 por Luke Egan. Todas tiveram altas ondas e um brasileiro nas quartas-de-final. Como só houve essas três, fico com a primeira.

7 - Um evento na França
Incluir Hossegor na lista pode ser uma escolha questionável, mas vale considerar pelo menos três eventos em seus beachbreaks. O Rip Curl Pro 1994 teve ótimos tubos e a vitória de Flávio Padaratz sobre Kelly Slater na final (até 2010 a única derrota de Slater para um brasileiro em uma decisão). O Quik Pro de 2002 teve a vitória de Neco Padaratz sobre o futuro tricampeão mundial Andy Irons, também em altas ondas. E o Quik Pro de 2004 teve ondas de 12 pés havaianos e a única final entre irmãos da história da ASP (os Irons).

8 - Um evento em Gold Coast
De preferência em Kirra Point, no auge. Dois eventos - ambos com disputas também em Burleigh Heads - despertam a atenção: no de
1996, houve a estreia de Kirra no tour, o recorde de Beschen (três notas 10 na mesma bateria) e a semifinal de Flávio Padaratz. No de 1997, houve a final de Peterson Rosa, a semi de Neco e mais uma vitória de Slater.

9 - Uma das cinco edições do The Search
No período mais recente, o evento itinerante da Rip Curl trouxe um atmosfera permanente de novidade ao circuito mundial. Nesse contexto, Ilhas Reunião, México, Chile, Bali e Portugal seriam destinos muito bem-vindos nesta lista, mas tão díspares entre si que fica difícil escolher um.

10 - Um evento em Sunset Beach
A primeira indicação desta lista até cita um evento que começou em Sunset (o Smirnoff 1974), mas acabou em Waimea. E Sunset merece uma versão completa. Primeira praia do north shore a receber competições, suas direitas já receberam mais de noventa campeonatos, segundo levantamento do Datasurfe. Dos tempos do Duke Invitational aos atuais encerramentos do Qualifying, foram muitos memoráveis. Pode-se escolher uma das longínquas vitórias de Jeff Hackman, a única conquista de Eddie Aikau no tour, o primeiro título de Tom Carroll, ou algo recente, como o World Cup de 2008, um dos maiores mares da história da ASP.

Não entraram na lista, mas poderiam (ou até deveriam):

- Um evento em Trestles. Não incluir a Califórnia entre os top 10 pode ser uma falha e Lowers é a melhor opção - apesar de Steamer Lane também ter seus méritos. Huntington Beach teve eventos históricos (inclusive aquele da quebradeira em 1986), mas chega de beachbreak.

- E por falar em Califórnia, tem também o Mundial de 1966, em San Diego, vencido por Nat Young. Pela questão histórica, da transição dos longboards para as pranchinhas. Além de ser um campeonato no modelo antigo e portanto bem diferente dos atuais.

- Um evento em Margaret River. De preferência um vencido por Tom Carroll no auge. Ou pelo Neco Padaratz, se o lado torcedor falar mais alto.

- Um evento em Mundaka. Mas é preciso ver qual das nove edições foi realmente em Mundaka e teve pelo menos oito pés de onda.

- A etapa do mundial de 1985 em Outer Kom, vencida por Wes Laine. Ondas grandes tem um fascínio inegável; 12 a 15 pés no ambiente peculiar de Cape Town é um ingrediente interessante.

- Um evento em Tavarua, outro destino idílico do tour. Quem sabe uma das duas edições com vice-campeões brasileiros. O principal aqui é a onda.

- Um evento nas Maldivas. Porque há lugares (como G-Land e Tavarua) que se justificam por si só (ou pelo free surfe nas horas vagas). Em nove edições do WQS nas Maldivas houve um título (Heitor Alves, 2007) e três vices brasileiros, o que poderia ser o diferencial na escolha.

- O Japan Quik Pro de 2005, que teve altas ondas (seis pés a la Off-the-Wall) e um clássico confronto entre Andy Irons e Kelly Slater na final.

Muitos eventos memoráveis não foram citados, o que ilustra como é rica a história do surfe competição. Não especifiquei por exemplo nenhuma vitória do Tom Curren (e ele venceu 36 etapas, inclusive em Haleiwa, Bells, Burleigh Heads e Steamer Lane). Tampouco inclui uma das 16 vitórias de Martin Potter, ou alguma de Mark Richards, Cheyne Horan, todos ídolos a seu tempo. Por mais imprecisa que fique a lista, a impressão é que nunca está abrangente o suficiente.

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