quarta-feira, junho 13, 2012

O Pipemasters 1995 na revista Inside

Está disponível no issuu a revista Inside número 89, uma edição que considero especial. Mais da metade dela - 36 das 68 páginas - é dedicada à cobertura do Chiemsee Pipemasters 1995. Um daqueles eventos históricos, tanto pelas ondas excepcionais, quanto pelo desfecho do título mundial na última bateria, com o inesperado tricampeonato de Kely Slater. E especial para os brasileiros também, por uma razão específica: como mencionado na capa da revista, ainda que em outras palavras, naquele ano o surfe brasileiro impôs respeito no campeonato mais prestigiado do circuito mundial.

Primeiro, as ondas: a edição de 1995 do Pipemasters fechou a temporada com quatro dias de condições intensas, 6 a 10 pés, séries maiores. Um cenário impactante.

Segundo, o título. 1995 parecia ser o ano de Sunny Garcia. Campeão da abertura em Bells, com outras duas finais (incluindo mais uma vitória, em Biarritz) chegou em Pipeline liderando o ranking. Apenas outros dois podiam roubar-lhe a conquista inédita: Rob Machado, com três vitórias, vinha logo atrás; e Kelly Slater, em terceiro, dependia de uma improvável combinação de resultados. "Não apostaria contra mim em minha casa", desafiou Sunny na coletiva de encerramento do evento anterior, no Rio.

Entra em cena o acaso e um convidado inesperado: Mark Occhilupo. Retornando às competições, o touro indomável passa pela triagem e no round 1 - em que dois avançam e o terceiro é eliminado - enfrenta dois havaianos: Ross Williams e o zen budista Gerry Lopez. Enquanto Occy abre vantagem, Ross, que depende do resultado para se manter na elite, se afunda; mas é salvo nos minutos finais pelo benevolente Lopez, que lhe entrega a classificação com uma interferência proposital.

Eles não poderiam saber, mas a mudança de resultado reordena o cruzamento do round seguinte, e Sunny, que enfrentaria o desinteressado Lopez, pega o motivado Occhilupo. Quem não lembra os detalhes do previsível resultado pode recordar na revista.

A queda de Sunny (que só conseguiria o título mundial com Kelly Slater afastado do tour) preparou terreno para a decisão de temporada mais acirrada da história, pelo menos até o confronto entre Slater e Andy Irons em 2003.

Rob Machado e KS se enfrentaram em uma semifinal descrita por ambos como uma das melhores baterias de suas vidas. Se vencesse, Machado garantiria o título inédito (que nunca veio), mas após trocas sucessivas de tubos e notas excelentes, Slater levou a melhor. Um momento icônico dessa bateria e do tour na época foi o comprimento entre os dois após um tubo de Machado, um hang-five histórico (há um vídeo no youtube com imagens e entrevistas sobre essa bateria).

Para ser tricampeão Slater ainda precisava derrotar Occy na final, mas nisso houve pouco suspense, e para êxtase geral KS conquistou sua terceira taça. Assombroso pensar que hoje ele tem onze na estante e espaço para mais.

Porfim, nós. O Brasil teve onze representantes naquele Pipemasters - número recorde, segundo o retrospecto nacional pesquisado pelo Datasurfe. E como registrado na revista, mesmo sem um grande resultado individual, o saldo foi positivo. Dos nove integrantes da elite, o maior destaque foi Guilherme Herdy, que recebeu uma nota dez pelo tubo da capa - no ano seguinte ele chegaria à semifinal em Pipe. Mas os brazos (expressão criada quinze anos depois) que mais impressionaram no evento foram os dois alternates convocados de surpresa, e em situações bem opostas: o veterano semi-aposentado Pedro Muller e o jovem aspirante à elite Fábio Binho Nunes.

Essa história ficou amplamente registrada naquela edição. Além das imagens, para muitos o que realmente vale no surfe, a edição traz informações históricas do Pipemasters, a descrição dos quatro dias de competição, do desfecho do título mundial, declarações de Slater e, especialmente, entrevistas com os brasileiros e um resumo da participação de cada um.

Os textos produzi após acompanhar o campeonato da areia, na viagem mais marcante que fiz nos meus três anos na revista Inside. Sonho realizado não se esquece, e qual jovem surfista não sonha em conhecer o north shore. As fotos são em grande parte do Flávio Vidigal, também editor de fotografia da revista na época, e dos colaboradores Jason Childs e Pete Frieden. E a arte do Marcelo Breda Pantera, que com Vidigal e Rodrigo Viegas (co-editor) fazia parte do nosso um tanto informal conselho editorial.

Pelo resultado final e pela quantidade de envolvidos, considero essa edição um dos trabalhos mais consistentes que fiz pela Inside, junto com os cadernos InTools, também disponíveis no issuu.

É curioso folhear hoje a revista e ver quanta coisa mudou nos 17 anos desde então, em especial no surfe brasileiro, que parece ter menos nomes na elite, porém com maiores chances de chegar ao topo - ainda que, ao menos em Pipeline, principal arena do esporte, o resultado maior ainda esteja por vir.

2 Comentários:

Anônimo disse...

Salve, eu tenho algumas revistas antigas de surfe (Visual, Inside, Surfer e Fluir)você saberia me dizer se alguem se interessa por isso?

Grato

Nema Herrero
(nemaherrero@hotmail.com)

fabio" binho "nunes disse...

Massa demais!!!!! boas lembranças!!!