segunda-feira, maio 07, 2012

A reafirmação de Gabriel Medina

'This kid cannot be denied'

A vitória de Medina em Lowers é daqueles fatos cujo significado parece maior. Comparações pós-final no twitter mencionam ET, superhomem, Deus, e óbvio, Kelly Slater (não necessariamente nessa ordem). Por um lado, calma, foi somente um campeonato e o garoto tem apenas 18 anos (e é brasileiro, para nossa alegria). Mas por outro, haja ponto de exclamação.

Sim, Trestles é um tipo específico de onda, na qual se encaixam muito bem os pontos fortes do garoto. Mas sabemos que em surfe competição há mais do que surfe, o que ficou evidente no confronto com Brett Simpson no round 5. Após atropelar quem viesse nas fases anteriores, pela primeira vez no evento ele se viu em desvantagem na contagem regressiva, precisando de uma nota excelente. Conseguiu (ou arrancou na marra) na última onda com a manobra que lhe deu o prêmio VMP, eleita pelo público a mais inovadora e arriscada de todo o campeonato.

'Um daqueles momentos reveladores em que você se dá conta de que Gabriel simplesmente não vai permitir que lhe neguem a vitória e é capaz de qualquer coisa', escreveu Shea Lopez (logo em seguida citando JJ e Kolohe, claro, mas cada louco com sua mania).

Uma virada que certamente lembrou Slater. Provoque o melhor do oponente para apenas então superá-lo. Medina fez com Simpo o que Slater tem feito com gerações.

Era a isso que se referia Nat Young (o australiano que venceu o mundial de 1966, não o novo americano) quando escreveu que um campeão mundial deve representar o ápice do desenvolvimento do surfe.

Sim, muita calma nessa hora, isso é apenas um começo e o futuro se constrói no cotidiano. E sim, o topo é um lugar incômodo, de constante adoração e contestação.

Mas que começo, tamanha adoração e contestação não são por acaso. Com apenas 18 anos, Medina já soma cinco vitórias no Qualifying, é um dos onze brasileiros (de 61 no total) com mais conquistas no tour de acesso. Venceu eventos de status: dois primes e três 6 estrelas, que lhe deram o raramente lembrado título sul-americano de 2011.

Ainda o chamam de Gabriel Medalha, mas hoje mal encontram espaço em seu currículo os títulos (expressivos e recentes) que lhe deram o apelido nos eventos juniores da ASP e da ISA, dos quais teve de abrir mão pelo sucesso precoce. Afinal, assombrosas mesmo foram suas conquistas pelo WT em 2011 - França e The Search -, seu cartão de apresentação na elite.

Neste troféu recente, em um aspecto ele lembrou Adriano de Souza (outro apontado no exterior como potencial primeiro brasileiro campeão mundial da ASP, e já maduro). Como Mineiro em 2007, Medina vence no QS quando precisa. Fez assim para entrar na elite e o faz agora para manter a confiança, a própria e a dos juízes.

Após o prime em Trestles, Slater, que busca reinar também no twitter, mandou um recado significativo: 'Só tenho que lidar com você por um curto tempo; tenho pena dos caras com a tua idade'.

Pense nisso: Slater tem o melhor retrospecto do WT em Trestles. Em 11 eventos, fez sete finais (cinco seguidas) e só perdeu duas, ou seja: ganhou quase metade. Deve estar mesmo pensando em como lidar com Medina naquelas condições em setembro próximo.

Mas bem antes, ainda esta semana, o tour se encontra nas praias do Rio. Com expectativas enormes, pois o time brasileiro é menos numeroso do que foi no passado (terá 10 representantes e já teve 20), mas é forte. O retrospecto imediato alimenta a esperança: o Brasil emplacou um finalista nas três últimas edições e os dois títulos mais recentes ficaram em casa. Na verdade estamos ficando mal-acostumados: nunca tivemos tais números no WT.

O sonho do torcedor local, claro, é uma inédita final brasileira. A única que tivemos no WT foi em Huntington, em 1999, entre Neco e Gouveia. Repetir a dose em um Arpoador de gala seria pedir demais?

3 Comentários:

Anônimo disse...

show a postagem...aloha gd

Anônimo disse...

Ótimo texto!

Esse Medina vai longe, mas cá entre nós, ainda acredito que o Mineiro esta mais próximo do caneco...

Parabéns pelo blog!

Provos Brasil

Julio Adler disse...

Boa Cabral!