Ondas tubulares em ilhas de natureza exuberante remetem ao paraíso clássico dos surfistas
Nos próximos dias o WT retorna à ilha de Fiji, por onde não passa desde 2008. Será a nona edição do evento, que estreou no calendário em 1999, mesmo ano que Teahupoo. Não por coincidência: o conceito de Dream Tour firmou-se nos anos 1990 com a inclusão de destinos como Gradjagan/G-Land, em Java. Mas G-Land foi um sonho que durou apenas três anos (1995-1997), por suas dificuldades logísticas. Cloudbreak e Teahupoo logo surgiram como alternativas mais práticas, e ainda assim singulares.
Pela tela e pelos relatos, a esquerda de Cloudbreak (como a de G-Land) não é tão pesada quanto a de Teahupoo, a 'dos crânios quebrados'. Mas Fiji não é tão constante no tour quanto o Tahiti, que após a estreia não saiu mais do calendário - e que recebe a elite em junho próximo. Enquanto a tahitiana Teahupoo é um desafio temido mas conhecido, Cloudbreak é novidade para parte significativa dos top 34.
Bancado nas primeiras cinco edições pela Quiksilver e nas três seguintes pela Globe, o Fiji Pro volta este ano patrocinado pela Volcom, que estreia no WT após três anos financiando um evento Star em Pipeline. Veio em boa hora, para compensar a saída da etapa em Jeffrey's Bay - ainda que com isso o tour perca sua principal direita e ganhe mais uma (a terceira) esquerda tubular sobre recifes.
A 'Perna (pouco) Pacífica' do WT - Fiji e Tahiti, nem sempre nessa ordem - não acontecia desde 2008
Nessas condições o passe dos brasileiros pode não ser dos mais caros no Fantasy Surfer, mas é melhor não subestimar. Ainda que nenhum tenha vencido, o pódio de Tavarua já recebeu no passado alguns brazos que não constavam na lista usual de favoritos.
Na edição inaugural, Victor Ribas enfileirou Rob Machado, Luke Egan e Kelly Slater a caminho da final. Foi barrado enfim por Mark Occhilupo, que conquistou em 'ondas excelentes de 5 pés' a segunda das três vitórias que o levaram ao título mundial (e a primeira, significativamente, havia sido em Teahupoo).
No ano seguinte, foi a vez de Guilherme Herdy despachar Sunny Garcia, Shane Dorian e os dois Hobgoods rumo à decisão. Mas também perdeu, para Luke Egan, que alcançou ali apenas a segunda vitória de toda a sua carreira no WT (e a primeira, adivinhem, foi em G-Land).
Após esses dois vices, o surfe brasileiro ficou cinco edições sem passar das quartas em Fiji (e a única QF foi logo em 2002, com Peterson Rosa). Até 2008, quando Adriano de Souza botou a verde-amarela de novo no pódio: foi à semifinal, impondo na ocasião aos olhos estrangeiros sua condição de postulante ao título mundial. Como ele mesmo coloca, 'foi onde eu explodi', e o vídeo do dia decisivo (no Youtube) é uma curta mas significativa mostra do nível de surfe que vinha apresentando.
Este ano Mineiro compete pela terceira vez em Fiji, e retorna como um dos concorrentes ao título da temporada, lista que já não passa de uma dúzia. Um novo pódio lhe dá condições de sonhar alto, além de ser uma bela resposta às críticas habituais - como foi em 2008.
Mineiro, Cloudbreak 2008
Dos outros seis participantes brasileiros, apenas dois já competiram em Cloudbreak. Heitor Alves também esteve na edição de 2008: venceu bem na estreia, depois perdeu para Bob Martinez. Raoni Monteiro participou em 2004 e 2005, e não passou do round 2 (mas vale lembrar que Raoni é tuberider e fez uma nota dez e QF em Teahupoo/2011).
Aleho Muniz, Gabriel Medina, Miguel Pupo e Willian Cardoso (que substitui Jadson André) desbravam novo território. O alternate Willian compete apenas pela segunda vez em um WT no exterior (também esteve em Pipeline/2011; as outras quatro foram no Brasil, entre 2007 e 2012).
Estarão em Fiji este ano os dois únicos bicampeões do evento: Kelly Slater (2005/2008) e Damien Hobgood (2004/2006), que juntos venceram as quatro edições mais recentes. Em 2008 Slater passou por Cloudbreak em ritmo de festa: fez nota 10, levou a galera pra passear de kombi e chegou a terceira vitória em quatro etapas na temporada; ainda não havia perdido para um top 44 no ano, somente para o wildcard Manoa Drollet em Teahupoo. O resumo do evento no Datasurfe tem links interessantes como o sempre pertinente comentário final de Júlio Adler no Goiabada.
Entre os campeões ausentes, destaque para o falecido Andy Irons, que fez duas finais seguidas (2002/2003) e venceu a primeira. Certamente será lembrado.
Além de KS e Damien, o único integrante atual do WT que já fez final em Cloudbreak é o outro Hobgood, CJ - vice duas vezes, ambas para Slater. A presença desses três 'veteranos especialistas' entre os 36 nos leva a pensar se teremos novidade no alto do pódio este ano.
Apenas a quarta de dez etapas, a competição ganhou emoção depois que as três anteriores tiveram vencedores diferentes - a corrida está totalmente em aberto. Após os dois 'campeonatos de tubo' em Fiji e Teahupoo, no entanto, já estará na metade. O fato de Slater não ter vindo ao Brasil apimenta a disputa: pode ele vencer novamente como em 2011, quando abriu mão de J-Bay no início do ano, e mesmo assim antecipou mais um título mundial?
Detalhe que em 2011 Slater não competiu em J-Bay para surfar em Cloudbreak.
Os demais favoritos de sempre tem trabalho pela frente. Joel Parkinson, atual líder do ranking sem ainda ter vencido, competiu cinco vezes no WT Fiji e nunca passou das quartas (em 2008 foi barrado por Mineiro, em uma virada no final). Outro que está bem no ranking, venceu em Bells, mas não guarda grandes lembranças de Cloudbreak, é Mick Fanning. Apesar das muitas palavras no preview da Surfline, em seis participações, Fanning só passou do round 3 em duas, e também nunca foi além das quartas (também em 2008, caiu para CJ). Já o retrospecto de Taj Burrow, campeão na etapa de abertura na Gold Coast, é um pouco melhor: uma semi e três quartas, porém ele competiu em todas os oito edições.
E tem, claro, o JJ.
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