"Eu viajava com Kelly e Ross Clark Jones e fomos ao Japão para dois eventos, o Marui em Chiba e o Miyazaki Pro (...) depois que Ross foi eliminado do segundo campeonato e voltou para casa, um grande furacão atingiu a costa e gerou ondulações gigantes, pesadas. Foi um swell clássico de furacão com o mar enorme e selvagem em todos os lugares.
Kelly e eu terminamos o evento e decidimos explorar. O swell era bestial, pesado e perigoso. Estava nublado, mas o mar estava liso e alinhado. Havia muitos picos com boas ondas (...) e em uma pequena baía com vento terral quebravam esquerdas muito boas em um reef break, 4 a 6 pés, com surfistas na água.
Dirigimos até um reef break com uma direita pesada, a meia hora do local do evento. Uma onda animal, que rodava 'top to bottom' até fechar em frente a uma bancada exposta. "Aquela onda pode ser surfável", falei pro Kelly. Olhávamos aquilo admirados. Uma onda de lip espesso, provavelmente 10 a 12 pés, com um tubo realmente largo. Então notamos que havia alguém no mar.
"Aquele japônes vai acabar se matando", eu disse. Então ele pegou uma onda e surfou-a em grande estilo. Quando virou na base, nos demos conta de que era Curren.
"O que diabos ele está fazendo lá?". Era uma situação realmente perigosa. Tom virou na base, deu uma passada no topo da onda e saiu; ele parecia estar avaliando o lugar.
Virei pro Kelly: "Você sabe que nós vamos entrar". Infelizmente Ross tinha ido embora, então era só ele e eu. Sendo um novato no tour, Kelly estava determinado a ganhar experiência e reputação em ondas grandes.
Tudo que eu tinha era uma Maurice Cole 6'8, Kelly tinha uma 6'10. Apesar do equipamento pequeno, eu estava determinado a tentar. Depois descobrimos que Curren havia emprestado uma 7'9 de uma surfshop chamada Wellybird. Uma prancha clássica coberta de antiderrapante, mas ele usou-a muito bem, como se fosse parte do seu quiver. Ele parecia estar em uma missão solitária para surfar ondas nunca exploradas. Tom nunca havia vencido no Hawaii e parecia estar no ponto de provar a si mesmo que podia encarar ondas grandes e situações de risco. (...)
Kelly e eu tivemos que atravessar a baía para chegar ao lineup. Não havia como remar através da arrebentação porque quebrava direto sobre a bancada exposta. (...) Não tínhamos certeza se o mar estava subindo ou baixando, então estávamos um pouco inseguros. Ninguém conhecia aquela onda. Pelo que eu sabia, nunca havia sido surfada daquele tamanho. Se Curren não estivesse lá, tenho certeza de que não entraríamos, porque eu não estava no estágio de encarar qualquer coisa. Tom pegou algumas ondas e eu pensei "bom, tenho que entrar lá também". Além do que algumas ondas pareciam boas.
Remamos até Tom. Ele estava adrenalizado e falando bastante, o que normalmente você não o vê fazer, estava empolgado com a situação. Estava adorando estar lá e acho que gostou que mais alguém também quisesse entrar. Era um desafio desbravar um lugar que nunca havia sido surfado antes e acabamos pegando algumas ondas muito boas. Em uma peguei um tubo que pensei que não fosse sair (...) uma situação pesada, com uma prancha pequena e fiquei muito satisfeito de completar.
Kelly estava cauteloso, mas esse era o estágio em que ele estava na época. Dava pra ver que ele estava impressionado com a situação e não havia nada errado nisso. Ele estava disposto a aceitar isso, o que considero muito importante. Você precisa conhecer seus limites, então trabalhar para expandi-los com consciência. Kelly sabia que tinha talento para pegar ondas como aquelas - ele só precisava ganhar confiança. (...)
Curren atacou o Hawaii naquele ano em um nível que nunca havíamos visto antes e venceu o primeiro evento, em Haleiwa. Foi a primeira vitória de Tom no Hawaii e me confirmou que ele andava em uma missão nas ondas grandes - ele precisava vencer lá para sua autoestima."
Kelly Slater: "Estava 10 a 15 pés, uma direita assustadora. Bem grande para mim, foi antes de eu fazer qualquer coisa no Hawaii. Era uma longa remada. Ficamos uma hora e meia e eu peguei uma onda. Era incrível a confiança que eles tinham. Era como Haleiwa realmente intenso e sem correnteza. (...) Carroll pegou uma onda, virou na base, ela ficou branca de espuma e dobrou de tamanho quando entrou na bancada (...) uma onda gigante, 15 pés (...) ele desapareceu no tubo (..) saiu e puxou um grande cutback off-the-top, a onda rodou de novo e ele saiu por baixo dela no último instante. Sunny Garcia, que assistia da praia, disse que foi a coisa mais pesada que ele já tinha visto. Penso que aquela sessão de surfe foi uma das melhores de todos os tempos. Eu não estava realmente envolvido - eram só os dois pegando onda após onda. Como se tivessem uma competição silenciosa entre eles, quem conseguia pegar a maior onda, a mais perigosa".
Traduzido (e editado sem dó) do livro The Wave Within, biografia de Tom Carroll
sexta-feira, julho 10, 2009
Curren, Carroll e Slater no Japão em 1991
por Gustavo Cabral Vaz | 9:53 AM
Categorias: História
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